Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



por Otília Martel, em 16.03.18

Viagem

Começo aqui,

no local onde me abrigo,

um olhar aberto de mim para comigo.

Começo aqui

um voar acautelado

por entre as nuvens do horizonte.

Começo aqui

a melodia que, em alegria,

toca meu coração.

Começo aqui

o dia dos meus dias,

por entre mágoas e perdão,

crendo no valor da música sentida,

cultivada entre a razão e a ilusão.

Começo aqui

o dedilhar de palavras,

por entre as

vogais e consoantes,

que formam proposições do meu sentir

numa panóplia de emoções.

Começo a viagem

ao sentimento de todas as sensações

Regresso a mim

 

 Os meus amores

(Clicar para abrir o vídeo)

 

(25.Set.2010)

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


por Otília Martel, em 27.02.18

Meus afectos

Este é o meu rapaz. Ainda menino.
Já é adulto mas continua a ser o meu menino. No passado dia 7 foi o seu aniversário.

Jorge Martel

 

És
jovem tímido
de olhar brilhante.
Nasceste
amor versus paixão.
infante, loiro e lindo
alegria do meu coração.
És
a força que me levanta
todas as manhãs
sol raiando
mesmo em dias de nevoeiro.
No silencio
das palavras que não pronuncias
há o imenso amor que sinto
no teu olhar e abraço.
És
a espera da viagem
a alegria da chegada
o beijo de boa noite
todos os dias.

És meu filho
meu encanto e ternura.
Adoro-te.

Ao meu filho Jorge pelo seu aniversário.

Meus filhos

Os meus filhos: a mãe e o titio do Luca.

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


por Otília Martel, em 22.02.18

Cinco Anos

Faz hoje, por está hora, cinco anos que tive nos braços, pela primeira vez, o meu neto Luca.
Momento de sentimentos controversos: ternura, comoção, alegria, orgulho e tudo aquilo de inimaginável que o coração pode sentir.
Quando a minha filha nasceu e passando a dor do parto a alegria de a ter nos braços foi indescritível.
Mas, ao ter nos braços o Luca, foi renascer para a vida; foi esquecer todos os momentos maus e sentir reviver, em força, o amor.
Ele é o futuro que ainda quero conquistar.

Parabéns, meu amor

Luca noa Foz do PortoFotografia tirada o Verão passado, num dia em cheio passado com a Vovó

Na memória
dos dias,
sou matéria e emoção.

No olhar,
vislumbre da natureza,
percorrem sentimentos
na penumbra
da linha que separa
céu e mar.

Ar liquefeito
de perfume,
na alegria do teu sorriso,
do amor que me inunda
ao som da tua voz.

Somos
carne sangue
amor ternura
passado e presente.

És
Meu futuro
razão e viver.

Ao Luca, meu neto, pelo seu quinto aniversário,
da Vovó Tiló

Autoria e outros dados (tags, etc)


por Otília Martel, em 12.10.17

Momentos...

Como sabe bem nestes dias calmos de Outono ainda com rasgos de Verão o sol incidir no corpo.

A brisa leve revolta os cabelos e o cheiro a algas e sal envolve.

Momentos de serenidade...

Praia Miramar

 

Solidão

 

Estás todo em ti, mar, e, todavia,
como sem ti estás, que solitário,
que distante, sempre, de ti mesmo!

 

Aberto em mil feridas, cada instante,
qual minha fronte,
tuas ondas, como os meus pensamentos,
vão e vêm, vão e vêm,
beijando-se, afastando-se,
num eterno conhecer-se,
mar, e desconhecer-se.

 

És tu e não o sabes,
pulsa-te o coração e não o sente...
Que plenitude de solidão, mar solitário!

 

Juan Ramón Jiménez,

in "Diario de Un Poeta Reciencasado"
Tradução de José Bento

 

Foto: O mar da minha praia favorita.

Autoria e outros dados (tags, etc)


por Otília Martel, em 18.06.16

TSUNAMI DE ALMA

Thors Well, Oregon

 

A minha vida é um tsunami. Não. Não é a minha vida. É a minha alma. O meu pensamento.
Tantas marés aguentei que acho não sobreviver a esta. As ondas formam-se altas, cada vez mais altas.
Quase me atingem mas, de repente, pairam. Ficam ali a pairar. E eu impávida, sem acção, não consigo reagir.
Fui educada para ser forte. Para não dar a conhecer os meus sentimentos. Para permanecer serena e intrépida em qualquer circunstância.
Mas até que ponto o ser humano aguenta tanto?
Até quando qualquer ser humano não se deixa cair e quebra a sua fortaleza?
O meu forte que quereria impenetrável, começa a ceder.
Há fendas por todo o lado. E sinto o mar abalroar-me, como se eu fosse um pequeno barco que submerge às vagas imensas que já não consegue mais suportar.
Poderão dizer-me: “...mas o que te falta para ser feliz?” Sorrio.
Quem conhece o mar, é capaz de reconhecer as ondas bravias.
Sempre fui rebelde, reconheço. Poucas, tão poucas pessoas reconhecem um sobrevivente, um náufrago. E poucas navegaram nos seus mares.
Reconheço que sou injusta. Para os que sofrem na pele tanto infortúnio. Reconheço que sou injusta para os que perderem tudo e não se ergueram; que sou injusta para aqueles que nada conseguem.
Mas cada um sabe de si, diz o povo. E eu sei de mim, direi.
Como uma fortaleza impenetrável ninguém alcança o meu sofrimento mental. Como poderiam? Quem se aperceberia? Ou antes, quem pára na sua vida cómoda e me tenta entender? Quem pergunta? Para que eu possa responder?
Dizem que a idade traz sabedoria. Traz resignação.
Resignação porquê? E para quê?
Porque criei vida? Porque dei e guiei a vida dos meus filhos?
Porque eles crescem e seguem, felizes, o seu destino?
Porque eles sabem que podem sempre contar comigo?
Porque estou sempre disponível com um sorriso?
E eu, sobrevivente da vida, com quem conto?
Com a luta que travo dia a dia? Mesmo que essa luta seja ingrata e inglória?
Sinto-me naufragar na maré dos meus dias.
Mas todos me pedem sorrisos; alegria; disponibilidade.
E eu? E eu?

Imagem: Thors Well, Oregon, de Rick Berk

Autoria e outros dados (tags, etc)


por Otília Martel, em 31.03.16

Primavera

A passos largos da Primavera e apesar do tempo fosco que se faz sentir esta manhã, a vida continua.
As recordações e memórias, constantes, são como os primeiros livros de que mais gostámos...nunca se esquecem.

Muita pressão

O nascimento dos meus filhos foi o sentimento mais incrível e controverso que senti em toda a minha vida.

Não consigo explicar as emoções sentidas desde o momento que os meus olhos pousaram neles e os apertei nos meus braços a primeira vez. Não há palavras para descrever tal emoção, só excedida, na actualidade, pela ventura e orgulho de ter nos meus braços o meu neto Luca.

Há muito quem proteste sobre a falta de nascimento de crianças neste País e as estatísticas provam que a taxa bruta de natalidade foi decrescendo, drasticamente:
1960 (24,1), 2011 (9,2).

Haverão muitos factores decorrentes destes números: uma melhor informação aos jovens, o acesso mais livre a contraceptivos, uma maior responsabilidade sobre a natalidade, mas também a incerteza do futuro de um país endividado e as dificuldades financeiras que cada vez são maiores aliada à brutal taxa de desemprego que condiciona projectos de Vida.

A responsabilidade de ter filhos não é uma questão de estatística e, muito menos, um objectivo de adensar o mapa populacional de um País, na minha opinião. É sim, um projecto de Vida: da nossa e da deles. E coragem.

No momento de tanta incerteza futura, a natalidade é um acto de coragem e de luta permanente.

A todas as Mães e Pais de coragem que nestes tempos de grande pressão económica assumem o seu papel mais importante, desejo as maiores felicidades e que o futuro vos seja risonho.

A luta por um futuro melhor é de TODOS nós.

Autoria e outros dados (tags, etc)


por Otília Martel, em 01.02.16

SEGUNDA-FEIRA

Segunda-Feira.
A casa esvazia.
Terminadas as rotinas diárias, entre os agapornes, os vasos, os peixes, tira ali, limpa acolá.
Uma ida ao pc.
Voltar à cozinha, subir e descer escadas que faz muito bem. Admirar o mar ainda coberto de nevoeiro.
Trocar o canal 273 da NOS por um cd da Maria Bethânia.
Sigo cantarolando, enquanto o meu canito Sting colado às minhas pernas desliza nuns passos que querem-se de dança.


Segunda-Feira.
Nada de política. Nada de noticiários. Nada de desgraças. Nada de tristezas.
O carteiro tocou não duas mas uma vez.
Bethânia continua a cantar. Mastigo ao som dela.
Os agapornes na gaiola, cantam alegres. Gostam da música.


Segunda-Feira.
Dia tranquilo. Doce.
Tal como o bolo de chocolate que faz companhia ao café.
Trazido pela filha que anda entusiasmada com a maquineta nova.
Já fez pão não sei de quantas farinhas.
O pão de chouriço estava óptimo. Venha mais.


Segunda-Feira.
O ar está ameno. Respira-se maresia. E o verde do arvoredo escorrega no olhar.
Continua a música. Amores. Desamores. Saudade. Amor.
Lembranças. E mais saudade.


Segunda-Feira.
A meio caminho de Terça.


E a música continua...

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


por Otília Martel, em 24.12.15

Primeira Lição de Natal

 

Pinheiro de Natal.jpeg

 

Este Natal,

Vou levar o meu neto pela mão

A ver o pinheirinho do quintal,

Nu, sem qualquer decoração.

 

Nem fio de oiro ou prata ou cobre.

Tem a humildade de ter

Nascido pobre,

Como o Menino que vai nascer.

 

E por isso é mais belo e vivo e humano

Do que esse outro que estará na sala,

Morto, porém, soberbamente ufano

Do seu trajo de gala.

 

Este Natal,

Vou levar o meu neto pela mão,

A aprender a moral

Da primeira lição.

 

António Manuel Couto Viana

 

Feliz Natal.gif

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


por Otília Martel, em 03.12.15

Diário de uma Avó

Em dias quase de Inverno, é bom recordar o tempo quente, entre o céu e o mar.
O meu neto e o seu fiel “amigo” em conversas imaginárias, depois de um banho refrescante.
São momentos assim que trazem paz de espírito e fazem esquecer tudo o resto.

Luca.jpeg

Ao meu neto Luca

Na ternura do olhar
o teu sorriso maroto
descobrindo dia a dia
novas aventuras e palavras -
mesmo que mal pronunciadas-
é encanto na minha alma.

Os teus deditos
percorrendo meu rosto
o abraço sentido
num beijo caloroso
meiguice de gestos
que aquecem meu coração.

És esperança renovada
numa alegria sem limites.

És o futuro.

Autoria e outros dados (tags, etc)


por Otília Martel, em 16.10.15

Momentos...

 

Antoine de Saint-Exupéry.gif

Ao mudar uns livros de uma estante para outra para arranjar espaço para novos livros deparei-me com a trilogia de Caryl Chessman, livros que li, às escondidas do meu pai, na minha juventude.

E lembranças me ocorreram a este propósito.

Fui sempre uma leitora compulsiva.

Trocava as passeatas com as minhas amigas, as brincadeiras no jardim próprias da idade com outras crianças para, terminadas as aulas, me estender no chão do quarto ou na areia da praia ao lado da casa, sempre com um livro agarrado a mim.

Os meu pais nunca me proibiram de ler, antes pelo contrário, mas sempre de olho nas minhas escolhas.

Lembro-me de um dia o meu pai me levar à biblioteca de casa e, abrindo as portas de uma das estantes, dizer-me mais ou menos isto: “ - Pequenina, podes ler os livros desta prateleira de baixo, escolhi-os de propósito para os poderes ler. Mas atenção, os livros das outras estantes tens que me mostrar antes de os leres. Combinado?”

Claro que cumpri durante algum tempo mas passado meses estava a escolher por modo próprio o que queria ler e a explorar as outras estantes…

A par disso o meu pai “apresentou-me” um livro que tinha em cima da secretária forrado a papel pardo e me explicou que era um dicionário e onde poderia descobrir palavras “complicadas” e onde encontraria explicação para as dúvidas que tivesse nas minhas leituras.

Ainda hoje tenho esse livro: “Novo Dicionário da Língua Portuguesa, para os estudantes e para o povo, de Francisco Torrinha, numa edição de 1946”

Velhinho, muito usado, mas ainda a cumprir funções.

Claro que o Dicionário foi um das grandes bases para o meu grande “namoro” com as letras e que até hoje perdura.

Sorrio.

Livros que li numa idade em que ainda não os compreendia verdadeiramente, voltei a eles em várias épocas.

Recordo-me quando quis ler a “Rosa do Adro” de Manuel Maria Rodrigues e a minha mãe me proibiu retirando-me o livro do quarto. Não o li naquela altura mas, meses mais tarde, não lhe resisti e, aproveitando a saída dos meus pais para o cinema ou teatro, meti-me na biblioteca e acabei por o ler todo. Ainda tenho esse livro numa edição de 1934.

Lembro-me que quando fiz 7 anos fui com a minha mãe à livraria Lello & Irmão, em Luanda, onde vivi durante a minha infância e adolescência e foi-me oferecido “O Principezinho” só que com uma capa diferente daquela que actualmente é vendido. Apaixonei-me pelo conto.

Claro que naquela altura não percebia o significado de muita coisa mas quantas vezes, ao serão, minha mãe lia partes do livro e me explicava o que queriam dizer.

“- Mamã, lê mais um bocadinho. Gosto tanto”.

“…Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos…
O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
…"

E assim fui crescendo, lendo e amando os livros…

Autoria e outros dados (tags, etc)


Mais sobre mim

foto do autor