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por Otília Martel, em 18.06.16

TSUNAMI DE ALMA

Thors Well, Oregon

 

A minha vida é um tsunami. Não. Não é a minha vida. É a minha alma. O meu pensamento.
Tantas marés aguentei que acho não sobreviver a esta. As ondas formam-se altas, cada vez mais altas.
Quase me atingem mas, de repente, pairam. Ficam ali a pairar. E eu impávida, sem acção, não consigo reagir.
Fui educada para ser forte. Para não dar a conhecer os meus sentimentos. Para permanecer serena e intrépida em qualquer circunstância.
Mas até que ponto o ser humano aguenta tanto?
Até quando qualquer ser humano não se deixa cair e quebra a sua fortaleza?
O meu forte que quereria impenetrável, começa a ceder.
Há fendas por todo o lado. E sinto o mar abalroar-me, como se eu fosse um pequeno barco que submerge às vagas imensas que já não consegue mais suportar.
Poderão dizer-me: “...mas o que te falta para ser feliz?” Sorrio.
Quem conhece o mar, é capaz de reconhecer as ondas bravias.
Sempre fui rebelde, reconheço. Poucas, tão poucas pessoas reconhecem um sobrevivente, um náufrago. E poucas navegaram nos seus mares.
Reconheço que sou injusta. Para os que sofrem na pele tanto infortúnio. Reconheço que sou injusta para os que perderem tudo e não se ergueram; que sou injusta para aqueles que nada conseguem.
Mas cada um sabe de si, diz o povo. E eu sei de mim, direi.
Como uma fortaleza impenetrável ninguém alcança o meu sofrimento mental. Como poderiam? Quem se aperceberia? Ou antes, quem pára na sua vida cómoda e me tenta entender? Quem pergunta? Para que eu possa responder?
Dizem que a idade traz sabedoria. Traz resignação.
Resignação porquê? E para quê?
Porque criei vida? Porque dei e guiei a vida dos meus filhos?
Porque eles crescem e seguem, felizes, o seu destino?
Porque eles sabem que podem sempre contar comigo?
Porque estou sempre disponível com um sorriso?
E eu, sobrevivente da vida, com quem conto?
Com a luta que travo dia a dia? Mesmo que essa luta seja ingrata e inglória?
Sinto-me naufragar na maré dos meus dias.
Mas todos me pedem sorrisos; alegria; disponibilidade.
E eu? E eu?

Imagem: Thors Well, Oregon, de Rick Berk

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7 comentários

De Graça Pires a 19.06.2016 às 10:41

Minha querida amiga, este texto, excelente, deixa-me perceber que há tempestade no seu mar interior. Mas não se deixe naufragar. Às ondas bravias seguirá uma bonança. Sei que é uma guerreira, uma sobrevivente. E vai encontrar a paz que lhe é legítima. Digo-lhe eu, que "conheço bem o mar inquieto naquelas horas em que os barcos esquecem o caminho para o cais"...Coragem!
Um beijo.

De Otília Martel a 27.02.2018 às 22:43

Quase um ano depois ainda ando por aqui, querida Amiga.
Já calma, (depois da tempestade vem a bonança, não é?) e compenetrada que a realidade da vida é de importância vital para se sobreviver aos desgostos.
Grata pelas suas palavras. É tão bom tê-la aqui!
Beijo 

De Graça Pires a 12.09.2016 às 13:25

Então "avó"? 
Espero que esteja bem minha amiga.
Um beijo.

De batidasfotograficas a 27.09.2016 às 23:59

Agora tu avó! Saúde e descanso.
Bjs carinho.

De Otília Martel a 27.02.2018 às 22:43

Viva, Manuel.
Grata pela presença.
Bjo 

De Beno a 07.11.2016 às 16:25

Menina Marota já passaram alguns meses após esse vendaval que se abateu por aí.Já chegou a calmaria? Depois da tempestade vem a bonança digo eu que moro junto ao mar. Um abraço. Vamos viver.

De Otília Martel a 27.02.2018 às 22:44

Beno, já chegou a calmaria, sim.
Obrigada pela visita e pelas palavras
Um abraço

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