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por Otília Martel, em 04.06.15

Em Louvor das Crianças

A partir de determinada altura de mentalização de aspectos bem reais da vida humana e do mundo, deixaram de me ser significativos os dias disto e daquilo, à excepção do Dia de Natal.

Por tal motivo passou-me ao lado o dia marcado no calendário como sendo o Dia Mundial da Criança até porque, dias especiais, são todos aqueles que marcam a diferença entre o real e o comercial.

E o da criança deveria ser, efectivamente, todos os dias do ano.

Amar as crianças, protegê-las, educá-las, é uma tarefa que deveria ser, em todo o mundo, um compromisso diário.  
E não um chamariz para o já superlotado poder económico.

Porque, sem dúvida, como já dizia Novalis "A criança é o amor feito visível."

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 “Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso. 

A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue. 
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus.”

Eugénio de Andrade, in “Rosto Precário”

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