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por Otília Martel, em 16.10.15

Momentos...

 

Antoine de Saint-Exupéry.gif

Ao mudar uns livros de uma estante para outra para arranjar espaço para novos livros deparei-me com a trilogia de Caryl Chessman, livros que li, às escondidas do meu pai, na minha juventude.

E lembranças me ocorreram a este propósito.

Fui sempre uma leitora compulsiva.

Trocava as passeatas com as minhas amigas, as brincadeiras no jardim próprias da idade com outras crianças para, terminadas as aulas, me estender no chão do quarto ou na areia da praia ao lado da casa, sempre com um livro agarrado a mim.

Os meu pais nunca me proibiram de ler, antes pelo contrário, mas sempre de olho nas minhas escolhas.

Lembro-me de um dia o meu pai me levar à biblioteca de casa e, abrindo as portas de uma das estantes, dizer-me mais ou menos isto: “ - Pequenina, podes ler os livros desta prateleira de baixo, escolhi-os de propósito para os poderes ler. Mas atenção, os livros das outras estantes tens que me mostrar antes de os leres. Combinado?”

Claro que cumpri durante algum tempo mas passado meses estava a escolher por modo próprio o que queria ler e a explorar as outras estantes…

A par disso o meu pai “apresentou-me” um livro que tinha em cima da secretária forrado a papel pardo e me explicou que era um dicionário e onde poderia descobrir palavras “complicadas” e onde encontraria explicação para as dúvidas que tivesse nas minhas leituras.

Ainda hoje tenho esse livro: “Novo Dicionário da Língua Portuguesa, para os estudantes e para o povo, de Francisco Torrinha, numa edição de 1946”

Velhinho, muito usado, mas ainda a cumprir funções.

Claro que o Dicionário foi um das grandes bases para o meu grande “namoro” com as letras e que até hoje perdura.

Sorrio.

Livros que li numa idade em que ainda não os compreendia verdadeiramente, voltei a eles em várias épocas.

Recordo-me quando quis ler a “Rosa do Adro” de Manuel Maria Rodrigues e a minha mãe me proibiu retirando-me o livro do quarto. Não o li naquela altura mas, meses mais tarde, não lhe resisti e, aproveitando a saída dos meus pais para o cinema ou teatro, meti-me na biblioteca e acabei por o ler todo. Ainda tenho esse livro numa edição de 1934.

Lembro-me que quando fiz 7 anos fui com a minha mãe à livraria Lello & Irmão, em Luanda, onde vivi durante a minha infância e adolescência e foi-me oferecido “O Principezinho” só que com uma capa diferente daquela que actualmente é vendido. Apaixonei-me pelo conto.

Claro que naquela altura não percebia o significado de muita coisa mas quantas vezes, ao serão, minha mãe lia partes do livro e me explicava o que queriam dizer.

“- Mamã, lê mais um bocadinho. Gosto tanto”.

“…Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos…
O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
…"

E assim fui crescendo, lendo e amando os livros…

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